sábado, 13 de fevereiro de 2010

Pensamento de Dumond

Frases de Carlos Dumond de Andrade:


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: As academias coroam com igual zelo o talento e a ausência dele.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Cada geração de computadores desmoraliza as antecedentes e seus criadores.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Há campeões de tudo, inclusive de perda de campeonatos.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Há homens e mulheres que fazem do casamento uma oportunidade de adultério.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: No adultério há pelo menos três pessoas que se enganam.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.
Carlos Drummond de Andrade

Frase de Carlos Dumond de Andrade: O homem vangloria-se de ter imitado o vôo das aves com uma complicação técnica que elas dispensam.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Quem gosta de escrever cartas para os jornais não deve ter namorada.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Há certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Os homens são como as moedas; devemos tomá-los pelo seu valor, seja qual for o seu cunho.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Como as plantas a amizade não deve ser muito nem pouco regada.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Necessitamos sempre de ambicionar alguma coisa que, alcançada, não nos torna sem ambição.
Carlos Drummond de Andrade

Frase de Carlos Dumond de Andrade: "Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata."
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: O cofre do banco contém apenas dinheiro. Frustar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: A confiança é um ato de fé, e esta dispensa raciocínio.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Partido político é um agrupamento de cidadãos para defesa abstracta de princípios e elevação concreta de alguns cidadãos.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Há muitas razões para duvidar e uma só para crer.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Para a virtude da discrição, ou de modo geral qualquer virtude, aparecer em seu fulgor, é necessário que faltemos à sua prática.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Cem máximas que resumissem a sabedoria universal tornariam dispensáveis os livros.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: É menor pecado elogiar um mau livro sem o ler, do que depois de o ter lido. Por isso, agradeço imediatamente depois de receber o volume. Não há vida literária plenamente virtuosa.
Carlos Drummond de Andrade

Frase de Carlos Dumond de Andrade: A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: As dificuldades são o aço estrutural que entra na construção do carácter.
Carlos Drummond de Andrade

Frase de Carlos Dumond de Andrade: Não é fácil ter paciência diante dos que têm excesso de paciência.
Carlos Drummond de Andrade

Frase de Carlos Dumond de Andrade: Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante.
Carlos Drummond de Andrade

Frase de Carlos Dumond de Andrade: As obras-primas devem ter sido geradas por acaso; a produção voluntária não vai além da mediocridade.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons.
Carlos Drummond de Andrade


Frase de Carlos Dumond de Andrade: A educação para o sofrimento, evitaria senti-lo, em relação a casos que não o merecem.
Carlos Drummond de Andrade

Filosofia das Frases de Nelson Rodrigues


Frases

Nelson Rodrigues


- O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: — o da imaturidade.

- Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhores que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.

- Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas.

- A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.

- O brasileiro não está preparado para ser "o maior do mundo" em coisa nenhuma. Ser "o maior do mundo" em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.

- Há na aeromoça a nostalgia de quem vai morrer cedo. Reparem como vê as coisas com a doçura de um último olhar.

- Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.

- O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. Por exemplo: — um ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro já o empalha. É como se ele tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas.

- Assim como há uma rua Voluntários da Pátria, podia haver uma outra que se chamasse, inversamente, rua Traidores da Pátria.

- Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadeza.

- O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele.

- A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.

- Outro dia ouvi um pai dizer, radiante: — "Eu vi pílulas anticoncepcionais na bolsa da minha filha de doze anos!". Estava satisfeito, com o olho rútilo. Veja você que paspalhão!

- Em nosso século, o "grande homem" pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.

- O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.

- Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É uma ressentida contra si mesma.

- Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca.

- Chegou às redações a notícia da minha morte. E os bons colegas trataram de fazer a notícia. Se é verdade o que de mim disseram os necrológios, com a generosa abundância de todos os necrológios, sou de fato um bom sujeito.


As frases polêmicas e cheias de humor de
Nelson Rodrigues são publicadas como uma homenagem à passagem de seu aniversário de nascimento (23-08-1912). Elas foram selecionadas e organizadas por Ruy Castro, extraídas do livro "Flor de Obsessão", Cia. das Letras - São Paulo, 1997, págs. diversas.

Nelson Rodrigues - tudo sobre o autor e sua obra em "Biografias".

Pureza da Resposta das Crianças

O Que É, O Que É?

Gonzaguinha

Composição: Gonzaguinha

Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...

Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...

E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!...

E a vida
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...

Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...

Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...

Você diz que é luxo e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...

Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...

E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Espelho é a alma

Espelho

Simboliza sabedoria, auto-conhecimento e consciência resultando na verdade, clareza e reflexão. Nos sonhos simboliza a aspiração ao auto-conhecimento. É uma representação lunar e feminina que simboliza o conhecimento sem mácula de si mesmo. O espelho intacto funciona como símbolo de união, enquanto que o espelho partido, é um símbolo de separação.

Pode representar uma certa introspecção, uma falta de comunicação da pessoa com eu mundo interno. Total desconhecimento e sua personalidade mais íntima e profunda.

Normalmente a mensagem é muito clara: trate de buscar suas respostas em seu próprio interior e nos espelhos cotidianos presentes em sua vida; seu(sua) companheiro(a), seus amigos, seus familiares...

O espelho é o reflexo da alma; ele não mente. É o conhecimento do homem de si mesmo, a superfície clara e brilhante da verdade divina. Os Taoístas têm o espelho como o mecanismo de auto-realização; no Cristianismo, um espelho sem manchas como a imagem da Virgem Maria. Para os Chineses, é sinceridade e para os Budistas é a alma em seu estado de pureza.


As pessoas que fazem parte de sua vida refletem toda uma série de características que são parte de você mesmo(a). Reconheça-te em cada uma delas.

Admirável Mundo Novo

O Brave New World,
That has such people in’t!!!

Miranda em A Tempestade, de Shakespeare


A concepção da ilha de Utopia está toda enraizada em duas idéias: a não existência da propriedade privada é a primeira. A segunda é o alcance dos interesses individuais, entendido como apenas viável, se feito através do preenchimento prévio das necessidades coletivas. Esses conceitos são centrais na obra. Todo os outros elementos do funcionamento tanto dos costumes, quanto da cultura, como do governo são diretamente ligados a esses pontos. O autor vê a propriedade privada como a essência das mazelas do homem. Podemos entender como propriedade privada a desigualdade material, e se refere muito mais a propriedade privada como vemos hoje, do que à concentração de riquezas por direito de posse, como no caso da nobreza européia tradicional. Da mesma forma, a necessidade de ver a sociedade como um conjunto e de subordinar os interesses individuais aos coletivos são a única maneira de alcançar prosperidade e progresso.

A descrição da ilha é feita com base numa comparação com a Inglaterra do seu tempo, que tem uma função de negativo. É perfeitamente possível entender Utopia como uma anti-Inglaterra. A Inglaterra de More não é mais medieval, os valores não são mais exatamente os da nobreza, embora muito ainda reste dessa época. A singularidade da Inglaterra, onde a nobreza mais cedo começou a perder poder, permite entender o porque é tão forte a crítica de More à propriedade privada. Na sociedade inglesa a essa época já era tênue a linha que distingue burguesia e nobreza. Era muito fácil a ascensão à nobreza de um burguês rico ou a um nobre adquirir as práticas de um burguês. A revolta de More contra o dinheiro, a moeda, contra a desigualdade material e concentração de riquezas e contra a propriedade da terra, que já não é entendida por ele como direito natural de posse, demonstra o quanto já era acelerado na Inglaterra esse processo em direção ao capitalismo. Não são os valores medievais que More critica, são os que mais tarde serão chamados de valores burgueses. A Inglaterra de seu tempo, pelo que ele demonstra, já apresentava algumas distorções sociais e injustiças que são inerentes ao capitalismo.

Na época de More, a terra era a principal fonte de riqueza e trazia consigo também poder político e status. Na Inglaterra, ela já era considerada uma mercadoria e a nobreza inglesa estava num processo em que cada vez mais passaria a pensar como a burguesia, isto é, empresarialmente. As enclosures que fazem parte desse processo de transformação da terra em propriedade privada e, por conseqüência, mercadoria, vão resultar na necessidade dos camponeses assalariarem-se e aqueles que até então conseguiram produzir para si, nas terras comunais, vão tornar a ser explorados por um grupo de proprietários. E é dessa forma que é entendido o trabalho por More. Para ele, se há escassez de alimentos e desigualdade, é porque alguns estão trabalhando por outros. O trabalho, assim como a riqueza, deveria ser distribuído igualmente a todos. O trabalho, como vê em seu tempo, é apropriado por um exército de inúteis: clero, nobreza militar, comerciantes, proprietários de terra, donos de empresa, funcionários do estado e outros que estariam parasitando a sociedade e impedindo a felicidade comum. Nos cálculos de More, se toda essa casta de parasitas se também trabalhassem em algo produtivo, como na indústria ou agricultura, haveria suprimento suficiente para todas as necessidades da sociedade, assim como é descrito em Utopia. A miséria da qual More fala não é a dos mendigos das cidades medievais, é aquela resultado da necessidade de exploração do camponês. A descrição que Thomas More faz da Inglaterra de seu tempo é tão familiar ao leitor do século XX, capitalista, que chega a ser um instrumento de possível contestação da teoria de Max Weber sobre a origem do capitalismo.

O outro ponto central, as necessidades e a felicidade coletivas predominantes às individuais, tem grande força na concepção do governo da ilha. Não é à toa que a ilha tem um governo democrático e similar ao republicano. É por conta dos governantes europeus. A visão de Thomas More dos governantes, ao contrário do que se pode pensar está longe de ser ingênua. Ele sabia muito bem com quem estava tratando. A sensação familiar que alguns sentem ao ler a descrição que este faz dos costumes e práticas dos governantes europeus não é casual. Aqueles que já leram O Príncipe de Maquiavel podem notar que as atitudes que More indica como comuns entre os reis, são quase todas as que o italiano receita ao bom governante. Temos aí uma diferença de concepções no método de alcançar um bom governo. Para More, este deveria ter origem no povo, e ser calcado na sabedoria dos mais velhos. Para Maquiavel seria encontrado nos homens que o merecessem, e que soubessem retirar as lições do mundo, da experiência. Mas ao contrário deste, More acreditava que não seria sábio confiar tudo às mãos de um homem só que não estivesse ligado ao povo, não com tudo que já conhecia dos príncipes e dos reis. Estes e seus conselheiros, não estariam interessados em uma política verdadeiramente direcionada ao bem comum da sociedade. Estariam muito mais preocupados com seus próprios interesses, com suas próprias possibilidades de tirar vantagem da situação com a qual estariam lidando. Thomas More estava criticando o poder de uma classe militar, apenas preocupada com seus interesses, com seus privilégios, alimentados exatamente pela guerra – outro grande mal eleito por More, por sua vez também derivado da desigualdade material. Ao identificar nos governantes hereditários e intocáveis essa falta de ligação com os bem comum, criticava também o direito divino, o poder legitimado pela tradição. É natural então a defesa que faz da democracia como forma de governo. E é uma das componentes mais importantes de seu discurso a deslegitimação que faz ao poder real e ao poder da aristocracia. Fica extremamente claro para ele que o único governante legítimo é aquele escolhido pelos cidadãos. É muito forte a necessidade de um governo democrático, eleito e diretamente ligado aos interesses do povo. Por sinal, esse povo do qual fala não é um pequeno grupo restrito, não é um recurso ideológico (e demagogo) que visa tornar os interesses de alguns poucos os de todos. Entende por povo ou cidadão, todo e qualquer membro da comunidade. Na sua visão de sociedade igualitária em todos os sentidos, são muito poucos os que não são considerados membros dela. Mesmo assim, ainda vemos uma espécie de clivagem política, não econômica ou hereditária, mas de idade e de gênero, e claro, no caso dos escravos.

Os mais velhos, e por conseqüência para More, os mais sábios, teriam mais capacidade de decidir o que é melhor para todos. Em Utopia, as decisões políticas são feitas com base em uma estrutura que tem como as células básicas a divisão em famílias. Cada família é comandada pelo homem mais velho, e um certo número de famílias vai eleger um magistrado regional (sifogrante ou também chamado filarca) que as governará. Cada dez destes obedece a um magistrado superior, também eleito (protofilaraca ou traníboras), e os sifograntes ainda elegem um príncipe. Os traníboras e o príncipe reunidos são o senado, e deliberam a política da ilha. Mesmo assim há um rígido controle da base popular sobre o que o senado pode fazer. Com relação às mulheres nada é dito do papel delas na política, mas fica subentendido que esse papel está reservado aos homens. Por outro lado, a participação das mulheres na sociedade é bem igualitária, na educação, no treinamento militar e na divisão do trabalho. Por exemplo, mesmo o casamento sendo rigidamente controlado de acordo com as necessidades coletivas, ambos os noivos deverão estar de acordo com o matrimônio. Da mesma forma, o divórcio é tão restrito ao homem quanto à mulher (daí a necessidade de escolher bem os cônjuges antes).

Os escravos de Utopia não são entendidos como parte do povo. A eles é reservado o papel de párias, e que executam os trabalhos mais duros e indignos. Mas esse papel é reservado a eles não por serem estrangeiros ou por hereditariedade, e sim por serem criminosos ou soldados estrangeiros vencidos e poupados. E mesmo assim, é muito simples deixar de ser escravo. Os filhos de um escravo não são escravos, o criminoso verdadeiramente arrependido também não, assim como o soldado estrangeiro que absorver a cultura e costumes da ilha. Aliás, embora afirme que existiriam em grande número, quase nada parece sobrar para eles fazerem na dinâmica da sociedade utópica. Da mesma forma, o papel dos escravos na sociedade de More não é o mesmo da democracia clássica grega. A economia interna desta era escravista. A força de trabalho fundamental de Utopia é a do homem livre, a do cidadão de Utopia. Essa força de trabalho, entretanto, é rigidamente controlada pelo governo. Os magistrados são responsáveis por redirecionar os cidadãos para desempenhar as funções necessárias à sociedade. O indivíduo baseado em talento e gosto pessoal pode escolher sua profissão, mas apenas se as necessidades da sociedade estiverem de acordo. Ou seja, a divisão de trabalho é diretamente subordinada ao interesse coletivo. Os interesses de um devem ser alcançados, mas relacionados ao de todos. E há alguns serviços essenciais como a agricultura em que todos devem desempenhar. Todo ano cada família deve mandar um de seus membros para as plantações, de forma rotativa. Eventualmente se um membro gosta de trabalhar no campo, ele pode estender sua estadia.


O alfabeto Utopiano, segundo Peter Giles, apresenta bases latinas e gregas.

Esse rígido controle é encontrado também nos costumes. More entendeu que uma sociedade tão diferente no funcionamento e nas suas raízes deveria ter também uma cultura e ética totalmente diferente, e tentou encontrar os pontos onde os costumes contribuiriam para a manutenção dessa sociedade. Aqui diverge de Maquiavel. Esse acredita numa dupla moral. More acredita que a vida pública deve estar refletida na vida privada. Esse rígido controle da cultura e dos costumes está calcado no condicionamento, isto é à repetição intensa das lições, mensagens subliminares durante a educação e simbolismo. Há um quê de Behaviorismo na educação em Utopia. Na sociedade utópica, a educação é oferecida a todos, e cultivada com esmero. Thomas More sabia da necessidade de educar a todos. A igualdade não se sustentaria com um bando de ignorantes e alguns poucos cultos que logo se tornariam uma espécie de privilegiados. A defesa dos direitos coletivos feita por todos só poderia ser feita com uma difusão do conhecimento igual também. Como exemplo temos a maneira como encaram a moeda e a guerra. Para os utopianos a ganância e os metais preciosos são algo desprezível, assim desde cedo o homem vai ser educado a desprezar essa coisas. Um inventivo recurso de condicionamento seria utilizado pelos utopianos para conseguir este desprezo por metais raros. Seriam utilizados para fazer as algemas e adereços dos escravos e os vasos sanitários. Desde criança o habitante de Utopia aprenderia a desprezar tais metais. Da mesma forma, a guerra deve ser encarada sempre como último recurso. Embora todo cidadão receba treinamento militar, este só deve ser utilizado em caso de invasão da ilha por forças estrangeiras. Pode-se dizer que as estratégias de guerra de Utopia seriam então brilhantemente lógicas dentro da sua dinâmica.

De acordo com More, o trabalho coletivo resultaria numa produção muito acima da necessária para a manutenção da sociedade. Parte pode ser reservado para eventualidades, outra parte doada para os pobres de alguma nação vizinha. Uma outra parte é reservada para ser vendida a nações vizinhas que queiram comprar. O dinheiro resultante não teria utilidade se não houvessem nações gananciosas e belicosas. Mas como Utopia é uma ilha de paz e igualdade num mundo de violência e exploração, esse ouro vai ser utilizado para contratar exércitos mercenários para proteger a ilha, sempre fora das fronteiras, e subornar os exércitos adversários. Recurso que não pode ser utilizado contra o utopiano comum pois estes não vem valor nenhum na riqueza individual. E se algum trair Utopia, com certeza seria punido. More não estava sendo ingênuo, muito pelo contrário. Seu raciocínio, com ressalvas aos pressupostos, pouco calcados no mundo real, de que a sociedade auto-suficiente poderia produzir o necessário para acumular o suficiente para subsistência, os subornos e as tropas mercenárias, era perfeito.

A predominância das necessidades coletivas são baseadas numa filosofia do prazer. Os conceitos de prazer e felicidade são essenciais na construção da Utopia. É pensando em felicidade e nos prazeres que More vai dar o sentido e razão de existência dessa sociedade. Todo cidadão de Utopia busca o prazer. Mas o seu prazer não pode resultar no prejuízo, num mal a outrem. A filosofia de Utopia constrói toda uma lógica da busca pelo prazer, extremamente lúcida por sinal, enumerando uma hierarquia e classificando os prazeres físicos, intelectuais e espirituais. A ética e a religião também são ligadas à busca pelo prazer e felicidade. Alguns poucos poderiam não buscar o prazer sem serem considerados tolos, porém estes seriam pessoas extremamente religiosas ou santas que se absteriam da felicidade em prol do bem comum, uma espécie de mártires. Mas estes indivíduos seriam raros. O deus dos utopianos, que More faz questão de frisar, seria muito parecido com o cristão, antes de tudo quer que seus crentes busquem o prazer e não prejudiquem ao próximo. Este seria o Deus onipotente, universal, mas em utopia as pessoas também poderiam seguir outras religiões restritas, e cultos variados, ou seja, o autor defendia idéias de liberdade e tolerância religiosas. Seriam pequenas idiossincrasias sem a menor importância, até mesmo bem-vindas, enquanto o culto a esses deuses não ferisse os princípios básicos da sociedade. O bem comum, a igualdade, a ausência de orgulho mesquinho e a busca pelo prazer. Nessa sociedade a felicidade tem de ser pensada coletivamente. Um mundo de igualdade não teria sentido se não fosse pensado com o intuito de alcançar a felicidade. Essa busca pelo prazer é o que vai dar uma razão ideológica para essa sociedade igualitária mas rigidamente controlada. More entendeu como dialética a relação entre igualdade e liberdade e optou pela igualdade. Tendo em vista alcançar o bem comum e a felicidade coletiva, ao mesmo tempo objetivos e instrumentos ideológicos para a construção e manutenção dessa sociedade, viu na igualdade material a estrutura básica para essa sociedade, entretanto teve dificuldades em inserir liberdades individuais nesse universo. Esse mesmo conflito aparece em Admirável mundo novo, onde a sociedade ideal seguiu a mesma opção de Thomas More, porém o autor do livro, Aldous Huxley, a apresenta de forma extremamente crítica.

Thomas More escreveu uma obra onde descreve uma sociedade que entende como melhor que aquela onde vivia. Isso todos sabem. O próprio nome da ilha acaba corroborando essa concepção geral de que Utopia (que vem do grego, ou-topos: lugar nenhum) é considerada como o local onde se encontraria a sociedade ideal, e sendo ideal, inalcançável. Mas embora o nome da ilha indique que esta exista em um lugar nenhum, ela é situada geograficamente na América, no novo mundo. Ela não é colocada num lugar imaginário, num lugar espiritual, ou num lugar perdido. A ilha existiria no novo continente, sendo então possível fazer a viagem para lá. E é exatamente o que fez Rafael Hitlodeu, o viajante do qual supostamente More ouviu falar da ilha. Por sinal, idoso e sábio, Rafael Hitlodeu representa o rei filósofo de Platão. Essa localização no Novo Mundo está ligada a idéia da esperança de um novo tempo, de uma nova era para o homem, que é o Renascimento e o Humanismo. A descoberta de uma nova terra trazia consigo uma nova chance, isto é, para os insatisfeitos com o mundo europeu, a possibilidade tanto de encontrar uma nova civilização melhor, quanto um novo lugar para experimentar. O Humanismo do autor estava fazendo um grande rompimento com a idade média, não estava interessado na promessa de uma recompensa no além, no espírito, está preocupado com o mundo físico, com o mundo temporal. Um dos maiores méritos do livro Thomas More foi deslocar o Paraíso para o mundo real.

As nítidas influências de Platão nos escritos de More também nos levam a esse raciocínio. Não é difícil perceber que a Republica de Platão foi crucial para a criação dessa sociedade prefeita, várias e várias vezes More cita os escritos do filósofo grego. A concepção de Utopia deve muito as idéias deste pensador, e as conseqüências do livro também. O conceito de idealização é geralmente ligado a algo perfeito e inalcançável que está longe do mundo real. É costume então chegar à conclusão de que de nada adianta pensar num ideal pois este nunca irá se cristalizar na realidade. O ideal para More não é encarado dessa maneira, para ele o ideal está muito mais próximo do conceito matemático de limite (que Newton e Leibniz desenvolveriam só no século XVIII). O limite pode ser entendido como uma ferramenta que permite descobrir um ponto não existente de uma função, em um dado universo. Isso é feito através da análise da tendência dessa função, à medida em que ela se aproxima cada vez mais desse ponto. Ou seja, o limite é para onde algo tende sem nunca chegar , mas cada vez mais próximo, sendo que em certo momento é tão pequena a diferença que é como se fosse o . É dessa forma que More entende a idealização. Não a encara num sentido de objeto inalcançável, mas como uma meta da qual devemos nos aproximar o máximo possível. Como se pode ver nas posturas políticas que deixa transparecer, principalmente na primeira parte do livro, Thomas More está interessadíssimo na aplicação de suas idéias. Todo o debate entre More e Rafael Hitlodeu na primeira parte do livro é conduzido de maneira subliminar por este intuito.


Constantemente é sugerido por More que Hitlodeu compartilhe sua sabedoria com os reis, fazendo parte de algum Conselho de Estado. Este sempre nega e argumenta com base na crença (experiência ?) de que seus conselhos nunca seriam ouvidos. Hitlodeu, ou melhor More acredita que uma mudança na sociedade não poderá ser feita a partir da vontade das classe no poder num gesto de filantropia. Ao contrário do que acontece em Utopia, um mundo ideal onde um grande patrono, Utopos, reformou a ilha e a tornou na sociedade perfeita, More sabia o que aconteceu com Platão. More queria que a jornada em direção a Utopia fosse feita pelos que estavam insatisfeitos com o mundo como era. A mudança teria de ser feita de baixo, não pelo povo, mas pelos sábios conduzindo o povo, sem a ajuda dos poderosos. More tinha bem claro que os beneficiários da sociedade em que vivia nunca iriam querer mudar para uma sociedade igualitária e iriam se opor a qualquer tentativa de fazê-lo. Uma mudança no mundo deveria ser preparada cuidadosamente, e divulgada secretamente pelos sábios que a encabeçariam, até que chegasse o momento de bradá-la para os inimigos. Essa é a mensagem que passa várias vezes Hitlodeu-More, parafraseando Mateus: O que vos digo em voz baixa e ao ouvido, pregai-o em voz alta e abertamente.

Frequência aos trabalhos

As parábolas sempre ilustram com muita força e até com certa dramaticidade os ensinamentos morais. A freqüência dos irmãos aos trabalhos é um dos itens constantes de todas as pautas das reuniões.

Há os que não vão aos trabalhos da oficina, porque acham que a mesma nada mais tem a lhes ensinar. São os presunçosos. Se forem telhados, não sabem fazer o sinal de Aprendiz. Há os que não vão à Oficina porque acham que as reuniões se tornaram desinteressantes e monótonas. Estes fazem parte daquele grande grupo que entraram para à Maçonaria, mas a Maçonaria não entrou neles. Acham as reuniões desinteressantes mais nada fazem para torná-las melhores. São os reformistas e críticos de palavras, nada fazem porque faltam-lhes luzes para fazer, ou porque são egoístas, não querem dividir os seus conhecimentos, quando raramente possuem algum, são os verdadeiros inoperantes da Ordem.

Os argumentos, de todos os grupos de faltosos, são extremamente frágeis e na realidade se baseiam, também com a Maçonaria em três colunas, ou melhor, três antes coluna: a ignorância, o desinteresse e o perjúrio. Ser perjúrio não é somente quem revela os nossos segredos Iniciáticos, mas também é perjúrio aquele que não cumpre com as obrigações contraídas para com a sublime Ordem no Cerimonial da Iniciação.

Outro dia encontramos um destes pseudo irmão e perguntei-lhe: por que não tens mais ido à Loja? - ao que ele me respondeu de pronto: para que, só para bater malhetes? - Então lhe repliquei: sabes o que significa "bater malhetes"? - Ele se coçou todo, gaguejou, desculpou-se e se escafedeu-se deixando atrás de si a poeira ofuscante da sua ignorância.

Aprendemos com um Mestre, a quem respeitamos e admiramos uma parábola que vamos aqui tentar reproduzir aos irmãos.

Londres, fria, úmida, nevoenta e cinzenta, havia num bairro um templo religioso, possivelmente Anglicano, no qual pregava um mesmo pastor há mais de vinte anos. E os Londrinos, como os ingleses de um modo geral, são extremamente tradicionalistas e naquele Templo, vinham fiéis das redondezas, sempre os mesmos, sempre ocupando os mesmos lugares, a sucessão de cada semana e desta forma todos já se conheciam pelos nomes conforme devem ser os Maçons em Loja.

Num certo final de semana, o pastor notou ausente, uma cadeira que estava vazia e era a cadeira de um dos mais assíduos fiéis.

O pastor preocupou-se, mas passado o culto, o fato foi esquecido, absorvido que foi o pastor pelas suas outras atividades.

Nova semana, novo culto, e novamente a mesma cadeira vazia, o pastor perguntou aos fiéis: alguém viu o fulano, estaria doente, estaria acontecendo alguma coisa? - Ninguém soube responder.

Na semana seguinte o fato se repetiu pela terceira vez e o pastor, após o culto resolveu visitar o fiel.

Chegando lá, encontrou-o à beira da lareira, em frente ao fogo. Então o pastor lhe perguntou:

- Estás doente?
O fiel lhe respondeu:
- Não, estou muito bem de saúde.
E o pastor replicou:
- Estás com algum outro problema?
O fiel lhe respondeu:
- Não, não estou com problema nenhum, muito pelo contrário, estou muito bem:
Então o pastor lhe admoestou:
- Mas não tens ido mais ao culto...
Dito isso o fiel dirigindo-se ao pastor disse:
- Eu frequento aquele culto há mais de vinte anos, sento naquela cadeira, efetuo as orações e entôo os mesmos hinos, durante todo este tempo eu já aprendi tudo de culto, sei todo o livro do culto de cór. Então eu acho que não preciso mais ir lá, por isso não estou indo. Atônito, o pastor pensou um pouco, dirigiu-se à lareira, atiçou o fogo e de lá retirou a maior das brasas que se encontrava na lareira, colocando-a sobre a saleira de mármore da janela, ante o olhar curioso do fiel.

A brasa, em questões de minutos, perdeu o brilho, se revestiu de uma túnica cinzenta, transformando-se em carvão e cinza, fora do convívio com as outras brasas.

O fiel levantou-se colocando as mãos na cabeça, disse:
Por favor, homem para com isso, eu compreendi a lição.
Doravante não mais faltarei ao culto.
Tornando-se, a partir daquele dia, a cadeira, novamente ocupada.

Meus irmãos, os Maçons são como as brasas, para manterem a luz dos conhecimentos, o calor da fraternidade e a chama do ideal, necessário é, que estejam no convívio permanente das outras brasas.

Não faz Maçonaria fora do Templo. A Maçonaria que se pratica na vida profana é uma obrigação do iniciado e é reativada à cada Sessão, como uma espécie de bateria que precisa ser recarregada.

Se algum irmão acha que nada mais tem aprender, então ele dever ter atingido a Gnose perfeita e é chegado o momento dele começar a ensinar.

Bibliografia: ENTRE O QUADRO E O COMPASSO, IRMÃO WALTER PACHECO JR